As artes e a visão: problemas oculares em mestres da pintura mundial

Todo artista plástico expressa seus sentimentos e angústias por meio de suas obras, sejam elas pinturas, esculturas ou intervenções. Observando o seu trabalho, temos a possibilidade de entender um pouco o que sentem e como veem e percebem o mundo.

A visão é o principal sentido para esta percepção do exterior e caso esteja comprometida com alguma doença, a obra do artista trará as distorções que ele entende como sendo naturais, mas distorcidas para olhos saudáveis. Caso o artista plástico tenha alguma patologia ocular progressiva, é possível perceber a evolução da doença em suas obras.

Seis grandes artistas da pintura sofriam de problemas visuais que podem ter influenciado nas obras destes mestres. Catarata, miopia, astigmatismo e xantopsia foram algumas das patologias enfrentadas por Claude Monet, Mary Cassatt, Paul Cézanne, Honoré Daumier, e presume-se, El Greco e Van Gogh. Vamos saber um pouco mais da vida, obra e patologia ocular que acometeu cada um dos renomados artistas:

Mary Cassatt

A artista ficou conhecida por pintar mulheres e crianças em cenários intimistas, como as atividades femininas dentro de casa. Aos 56 anos, em 1990, a artista começa a ter problemas na visão. Aos 68 anos, a catarata foi diagnosticada, sendo submetida a cirurgia do olho direito, sem qualquer resultado. A artista ainda foi submetida à outra cirurgia, porém, seu estado geral era péssimo e a cirurgia também não obteve bom resultado. Cassatt estava totalmente deprimida por não conseguir ler e pintar, além de sofrer com diabetes. Aos 81 anos, faleceu na França.

Vincent Van Gogh

Van Gogh é um artista conhecido mundialmente por suas obras de arte, principalmente pela característica do tom amarelo em suas pinturas. Existe a hipótese de que Van Gogh sofresse de xantopsia, distúrbio da visão das cores, no qual todos os objetos coloridos aparecem em amarelo. Van Gogh pode ter adquirido o distúrbio por consumo excessivo de absinto ou por meio de tratamentos que podem ter provocado intoxicação digitálica. Nas obras de Gogh, é possível ver o amarelo em destaque.

Claude Monet

O artista foi o pintor que deu nome e identidade ao impressionismo, também considerado líder entre os outros do segmento. Aos 72 anos, em 1912, Monet foi diagnosticado com catarata nos dois olhos, porém, o problema já era perceptível há alguns anos, pois o artista já demonstrava mudanças na percepção das cores, sintomas típicos da doença. A cirurgia de catarata nessa época era muito temerosa, frente a falta de instrumentos e materiais adequados.

Honore Daumier

O artista foi considerado gênio do desenho e caricatura, autor de charges e um dos maiores gravadores de França. Quando começou a sofrer com problemas de visão, diagnosticado com catarata, Daumier passou a se dedicar apenas à pintura. Em 1872 com o avanço da doença, parou de pintar e em 1877 já estava quase cego. O artista realizou a cirurgia da catarata, bastante temerosa para a época, nos dois olhos, mas não obteve bom resultado.

Paul Cézanne

Conhecido como pai do pós-impressionismo, Cézanne abriu os caminhos para toda a arte moderna e o cubismo. O artista reestabeleceu a solidez de objetos retratados em sua estrutura geométrica. Paul Cézanne sofria de miopia. Um das hipóteses é que o artista explorou em suas obras a falta de nitidez produzida pelo problema visual, pois sempre rejeitava os óculos para manter as imagens desfocadas, como enxergava.

El Greco

Desde cedo, Greco começou a aprender pintura ao estilo bizantino. Com a popularidade, o artista usou em um grande número de obras a linguagem pictória, expressando sentimentos. El Greco pode ter sofrido de astigmatismo, assim como Botticelli e Ticiano, pintores de sua época. O astigmatismo induz a um alongamento unidirecional na percepção dos objetos, perceptível em suas obras. O alongamento das figuras também não seria unidirecional, mas também vertical, observado em algumas de suas obras. Porém, alguns especialistas acreditam na teoria de que estas alterações eram feitas de propósito e que Greco não sofria de problemas visão.

Referência: Livro Arte e Visão, de Jair Campani Júnior e Mari Menda, oferecido pela Merck Sharp e Dohme.