Por que devemos tratar a dor?

Por que devemos tratar a dor?

Em primeiro lugar, é importante salientar que a dor é um evento “esperado”. No nosso corpo existem receptores sensoriais formados por células capazes de captar estímulos e de transformá-los em um tipo de sinal que é transmitido de uma célula a outra até os níveis superiores do sistema nervoso central.

O cérebro capta estes estímulos e os transformam em percepção dolorosa que também pode ser amenizada por mecanismos biológicos inibitórios da dor. Entretanto, quando a sensação de dor se mantém por um período prolongado, estes mecanismos de controle deixam de agir ocorrendo amplificação da dor. A dor torna-se descontrolada e passa a ser desencadeada até mesmo por estímulos não dolorosos, “tudo dói”.

Segundo a Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP) a dor “‘é uma experiência sensorial e emocional desagradável”. É uma emoção individual variando de característica e intensidade de acordo com fatores físicos como a raça, o sexo, a idade; fatores emocionais como memória afetiva e catastrofização; fatores sociais como a cultura e recurso financeiro; e espirituais, que se referem à religiosidade e ao enfrentamento. Portanto, um mesmo estímulo pode gerar padrões de respostas dolorosas diferentes de um indivíduo para o outro. A sensação de dor é individual e só pode ser sentida por quem a tem. Por isso, para avaliar a dor é fundamental acreditar, ouvir e entender o paciente.

Na antiguidade, poucas ações foram efetivas para o alívio da dor. Os orientais se beneficiavam da acupuntura, os incas da mastigação da folha de coca, mas na cultura ocidental, a dor era algo divino, onde a doença e o sofrimento serviam como “castigo para a purificação da alma”. Sem recursos e alheios ao sofrimento humano, os médicos realizavam procedimentos nas alas mais altas e isoladas dos hospitais, de forma que os gritos dos pacientes não pudes-sem ser ouvidos.

Atualmente, a dor continua sendo um problema grave, de saúde pública. É uma das maiores causas de concessão de auxílio doença e aposentadoria por invalidez. Também é responsável pelo aumento da frequência e tempo de internação hospitalar; pela menor autonomia do paciente e maior demanda de profissionais de saúde gerando grandes implicações socioeconômicas.

De forma que o surgimento de uma sociedade mais atenta e exigente quanto as suas necessidades e possibilidades de tratamento, fez com que técnicas terapêuticas fossem implantadas. Surgindo também uma nova área de atuação médica, a medicina do controle da dor.

O médico da dor tem a formação adequada para encontrar a causa específica da dor a partir do histórico do paciente, achados fisiológicos, radiológicos, laboratoriais e bloqueios diagnósticos. Ele identifica as características da dor, as manifestações de sofrimento, os hábitos do paciente e suas possibilidades terapêuticas. Ele trabalha em parceria com os outros especialistas (ortopedista, oncologista, reumatologista, etc.) que cuidam da doença que deu origem à dor, e outros profissionais não médicos (fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, etc.) capazes de oferecer o tratamento não medicamentoso.

Esta área da medicina se utiliza de alta tecnologia e recursos humanizados para o tratamento de dores de difícil controle como a fibromialgia, dores de cabeça, dores pós-cirúrgicas, do envelhecimento e do câncer; dores do herpes zoster, do diabetes e musculares; dores pélvicas, da coluna, plexopatias, dores no membro fantasma, entre outras.

Quando o paciente procura esta classe médica ele já se encontra sem esperança, com a relação familiar e pro-fissional comprometidas, dominado por um quadro de insônia, irritabilidade e depressão. A sua função social não é mais a mesma, as suas limitações físicas se refletem em perda da autoestima e da credibilidade.

A maioria dos pacientes busca um resultado imediato, preferindo medicamentos modernos e procedimentos invasivos e avançados, que os coloquem em um papel passivo em relação à sua recuperação. Isto não basta. Além de toda dedicação do profissional, é fundamental que o paciente também esteja comprometido com o seu tratamento.

Sentir dor não é ‘normal”. E quanto maior o tempo na presença da dor; maior a dificuldade de recuperação. Muitas vezes o médico não alcança o objetivo esperado, voltando a sua atenção para o auxilio nas limitações decorrentes, melhorando a qualidade de vida.

Portanto, busque, trate, se esforce e não desista!

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Dra. Patricia Gomes da Silva. MD, PhD. Médica Anestesiologista, Área de Atuação em DOR. CRM nº 123.430 • IOB Bauru / Instituto Lauro de Souza Lima 

 

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